terça-feira, 19 de abril de 2011

Quem quer por terno em Macaco?

Parem de sorrir automaticamente para tudo, humanos filhos-da-puta. Admitam que vocês não têm a menor idéia do que fazem aqui. Admitam a dor de estar feio, e admitam que estar bonito não adianta porra nenhuma. Eu já me senti um lixo de pijama com remela nos olhos, mas nunca foi um lixo maior do que sentir gastando meu dinheiro numa bosta de salão de beleza enquanto crianças são jogadas em latas de lixo porque a total miséria transforma quaquer filho de Deus em algo abaixo do animal.

Mas eu não faço nada, eu continuo querendo usar uma merda de roupinha da moda, numa merda de festinha da moda, no meio de um monte de merdas que se parecem comigo. Eu quero feder tanto quanto eles para ser bem-aceita porque, quando você faz parte de um grupo, a dor se equilibra porque se nivela. E eu continuo perdida, sozinha, achando tudo falso e banal. Acordando com ressaca da vida medíocre todos os dias da minha vida. Grande merda de vida, você muda a estação do rádio para não reparar que a menina de dez anos parada ao lado do seu carro já tem malícia, mas não tem sapatos. Você dá mais um gole no frisante para não reparar que a moça da mesa do lado gostou do seu namorado, e ele, como qualquer imperfeito ser humano normal, gostou de ela ter olhado.

Você disfarça, a vida toda você disfarça. Para não parecer fraco, para não parecer louco, para não parecer demais e poder ser alvo de críticas, para ter com quem comer pizza no domingo, para ter com quem trepar na sexta à noite, para ter quem te pague a roupa nova e te faça sentir uma bosta; e para quem te pede socorro, você disfarça cegueira. Você passa a vida cego para poder viver. Porque enxergar tudo de verdade dói demais e enlouquece, e louco acaba sozinho. Vão querer te encarcerar numa sala escura e vazia, ninguém quer ter um conhecido maluco que lembra você o tempo todo da angústia da verdade de ter nascido.

Você passa a vida cego, mentindo, fingindo, teatralizando o personagem que sempre vence, que sempre controla, que sempre se resguarda e nunca abre a portinha da alma para o mundo. Só que a sua portinha um dia vira pó, e você morre sem nunca ter vivido, e você deixa de existir sem nunca ter sido notado. Você é mais uma cara produzida na foto de mais uma festa produzida, é um coadjuvante feliz dessa palhaçada de teatro que é a vida. Você aceitou tudo, você trocou as incertezas da sua alma pelas incertezas da moça da novela, porque ver os problemas em outros seres irreais é muito mais fácil e leve, além do que, novela dá sono e você não morre de insônia antes de dormir (porque antes de dormir é a hora perfeita para sentir o soco no estômago).

Você aceita a vida porque é o que a gente acaba fazendo para não se matar ou não matar todos os imbecis que escutam você reclamar horas sem fim das incertezas do mundo e respondem sem maiores profundidades: relaaaaaaxa.

Eu não vou fumar, eu não vou cheirar, eu não vou beber, eu não vou engolir, eu não vou fugir de querer me encontrar, de saber que merda é essa que me entristece tanto, de achar um sentido para eu não ser parte desse rebanho podre que se autoprotege e não sabe nem ao certo do quê. Eu não vou relaaaaaaaaxar.

A única verdade que me cala um pouco e, vez ou outra, me transforma em alguém estupidamente normal é que virar um louco selvagem que fala o que pensa, sem amigos e sem namorados, só é legal se você tiver alguém pra contar o quanto você é foda no final do dia.


TatiB.

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