quinta-feira, 24 de novembro de 2011

"Dias melhores. Caminhos novos, eu tenho fé, eu acredito.
A lua ainda fala comigo."
"Tinha uma criação de duzentas e oitenta e cinco borboletas na barriga, mas uma a uma elas vão fugindo. e dói."
    O acaso sempre dava um jeito de pô-los novamente juntos. Assustadoramente iguais, procuravam-se quase que por reflexo. Uma mensagem aleatória, uma ligação espontânea, uma vontade qualquer eram o suficiente para colocá-los outra vez nos braços um do outro, sem prudência ou perspectiva.
    Ele não disfarçava suas intenções, ela não o desencorajava. Ele mordia o lábio, ela não escondia o arrepio. Ele investia, ela não se esquivava. Longe dos olhares de censura, seguiam sua natureza humana como uma espécie de afronta à rotina, às convenções, aos relacionamentos comuns. Queriam-se sem se pertencerem. Tinham-se sem se cobrarem. Amavam-se sem se amarem.
    Toda essa naturalidade, porém, tinha prazo de validade. Talvez ela se apaixonasse e fosse viver uma história de amor com um terceiro; talvez ele cansasse daquela incerteza; ou talvez eles simplesmente decidissem que passaram dos limites. O fato é que jamais saberiam previamente quando seria a última vez que se encontrariam, pois seus instintos estavam conectados, de modo que, quando a solidão apertasse, eles invariavelmente se buscariam sedentos de familiaridade.
    Enquanto o “talvez” não os afastava, contudo, iam alimentando o que tinham sem sequer mencionar o futuro. Somente pele, vontade e uma pitada de malícia.



- Paula Braga.
  
  O acaso sempre dava um jeito de pô-los novamente juntos. Assustadoramente iguais, procuravam-se quase que por reflexo. Uma mensagem aleatória, uma ligação espontânea, uma vontade qualquer eram o suficiente para colocá-los outra vez nos braços um do outro, sem prudência ou perspectiva.
    Ele não disfarçava suas intenções, ela não o desencorajava. Ele mordia o lábio, ela não escondia o arrepio. Ele investia, ela não se esquivava. Longe dos olhares de censura, seguiam sua natureza humana como uma espécie de afronta à rotina, às convenções, aos relacionamentos comuns. Queriam-se sem se pertencerem. Tinham-se sem se cobrarem. Amavam-se sem se amarem.
    Toda essa naturalidade, porém, tinha prazo de validade. Talvez ela se apaixonasse e fosse viver uma história de amor com um terceiro; talvez ele cansasse daquela incerteza; ou talvez eles simplesmente decidissem que passaram dos limites. O fato é que jamais saberiam previamente quando seria a última vez que se encontrariam, pois seus instintos estavam conectados, de modo que, quando a solidão apertasse, eles invariavelmente se buscariam sedentos de familiaridade.
    Enquanto o “talvez” não os afastava, contudo, iam alimentando o que tinham sem sequer mencionar o futuro. Somente pele, vontade e uma pitada de malícia.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011



Que seja cumplicidade, porque a vida já é difícil sem afetos. o som dos passos no corredor pode ser um conforto inacreditável, o corpo ao lado na cama uma âncora para a alma aflita.


Lya Luft

sábado, 19 de novembro de 2011

“Não se trata de incapacidade de sentir a coisa, sou um ser humano plenamente funcional. Mas, sabe aquela do Stevie Wonder, “I Just Called To Say I Love You”? Pois é, não está na minha lista.”

”Se me perco no teu beijo, você fica tentando encontrar um caminho. Quando me encho de receio, você me diz estar pronta. Eu te ponho em xeque-mate, você me diz que cansou de jogar. Quando não quero me machucar, você me telefona no meio da noite.”
Gabito Nunes
Estou te ligando movido pela vontade de reaver você e aquilo que tínhamos até semana passada. Eu penso em você dia e noite e fico ridiculamente abalado se a gente acaba brigando. Eu acho que te amo, garota.”
Gabito Nunes

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Uma dor chamada saudade

Entre um capitulo e outro da minha história, encontro versos inacabados e entre os versos uma saudade…
Hoje meu dia começou assim: Com uma dor aguda por dentro. É que de vez em quando o meu coração dói.  Dói uma dor inteira. Dói porque a mão da saudade atravessa o meu corpo, toca o meu coração e o aperta. E aperta firme, daquele jeito que só resta gritar até a dor incômoda passar. E eu gritei! Gritei alto, bem alto, para que a saudade – por caridade – trouxesse a superfície da memória, lembranças daquele tempo em que passávamos horas e horas falando sobre sentimentos e a vasta alegria de tê-los dançando do lado de dentro. Eu gostava de ser feliz e ela também. Tínhamos vocação congênita para a felicidade, muito embora as tristezas viessem nos visitar de tempos em tempos, deixando apenas uns poucos retalhos de alguns sentimentos. Mas éramos felizes e com fios de felicidade costurávamos novamente a nossa história. Vivíamos assim, entre inconstantes recomeços; mas sem perder a alma para o desânimo que vinha junto com a tristeza. No fundo, no fundo, tínhamos como sobrenome a coragem. Talvez fosse esse o motivo das nossas almas terem se encontrado quando ainda estavam perdidas. E estavam mesmo… A origem disso tudo eu não me recordo. Lembro apenas de uma história de amor mal sucedida, que enlouqueceu os seus sentimentos, e a fez perder o prumo. E eu estava lá, bem perto, tentando dizer o indizível, mas não conseguia porque ela me faltava.
Que saudade… Saudade de um tempo que não volta, mas parece que ainda não foi. E enquanto a dor incômoda ardia no meu peito, lembrava-me dos nossos dias de sol e das noites sob as estrelas; de tudo aquilo que ela guardava em segredo, mas gostava de dizer.  Ela inventava histórias felizes e eu as imaginava. Vivíamos emoções infinitas contando histórias bem sucedidas, escritas em versos de amor. Dançávamos ao som da música da vida tendo como tom a generosidade. Trilhávamos juntas o caminho das certezas, até quando elas não existiam. Um dia ela resolveu me contar seus segredos, e eu lhe dizia as  minhas verdades ocultas; e das nossas confidências surgiam sonetos de esperança. Esperança grandiosa, plantada dentro do coração, que faz a gente acreditar até o último instante, mesmo quando a vida resolve emitir sons de espanto. Víviamos felizes porque tínhamos esperança! Talvez por isso eu sinta tanta saudade dela: Porque tudo nela alcança a vida.
Logo me dei conta de que algumas horas haviam se passado e eu ainda estava ali, com a viva lembrança nela. Lembrando com ternura até esquecer-me da dor. Aquela dor que é desatino; que fere, mesmo sem tocar. A dor do que foi sem tempo certo para voltar. A dor imensa da ausência. Assim a falta dela dói em mim. E mesmo que eu tente explicar, não consigo dizer porque ela se foi e me deixou aqui, perdida entre um verso e outro. Quanta saudade eu sinto de você…
Você: A intraduzível palavra que habitava aqui, dentro de mim!

Iluminada.




Hoje amanheci sol. Sol que brilha intenso; que ilumina palavras e faz falar coração mudo. Amanheci sol por que ao abrir os meus olhos vi a sua imagem refletida ali, fora de mim… Vi você! Você que habitava dentro e percorria meus espaços de afeto, agora me olhava inteira, tentando descobrir o caminho impenetrável das minhas incertezas. Você que usou a ternura para mergulhar no meu inacessível e desvendar os meus íntimos segredos. Você, que ouço com devoção, o coração bater em suave melodia de amor. Você, finalmente estava aqui e trouxe de presente o intraduzível; o inexplicável, que coloriu até o inexpressivo que havia em mim. Eu, que estava quase sucumbindo, hoje vivo essencialmente em ti!

Conversando com Clarice.

Não, não…  Não sou leve a vida inteira. Às vezes eu tenho o peso da complexidade da vida dentro de mim. E é justamente por isso que, de vez em quando, me desentendo dos sentimentos todos.  E não pense que misturar sentimentos aqui dentro é loucura enunciada ou prelúdio de uma iminente insanidade. Não, não! Isso é vácuo, que me suga para dentro; que me faz silenciar e remexer até encontrar sentido. Eu mergulhei… Mergulhei no meu íntimo secreto, na tentativa de enxergar o sentido inalcançável da vida.  Ah Clarice! Você que enxerga os pormenores da alma humana, consegue me ver? Enxerga que eu sou pormenor agora? Sou fragmento; uma pequena partícula isolada no silêncio da alma. Sou uma parte dentro de todos os sentimentos misturados. Mas ainda sou. E não, não sei explicar quando e como isso acontece.  Não me conheço tanto ao ponto de esclarecer alguns impossíveis dentro de mim. Você consegue Clarice? Lembro quando você disse: “O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós”. Talvez eu seja um fragmento do amor impossível! Talvez eu seja a coragem de ser amor o tempo todo. Talvez! Eu ainda não sei, Clarice. As explicações fogem e eu não as alcanço, assim como não alcanço o conceito de ser. Ser é o quê? Ser é existir? Ser é sentir? Talvez eu sinta tudo com a expectativa do que é passível de acontecimento. Talvez eu seja a coragem dos sentimentos todos que carrego aqui dentro. E, ser a coragem dos sentimentos que acontecem de verdade, também é amor.
Aliás, Clarice, por falar em amor, digo sem vergonha alguma, que quando amo de verdade, também não sei explicar. . . É algo que eu não c0nsigo esclarecer. Eu sinto, apenas. Também não sei dizer esse amor. Não há palavra que alcance a tradução da imensa emoção de ter alguém aqui, guardado dentro de mim; percorrendo a essência da minha alma. O que acontece é a sensação. E, quando amo alguém de verdade, a vontade que eu tenho é de engolir a pessoa. Isso! É essa a sensação: Uma sensação traduzida pela vontade de engolir e guardar a pessoa dentro. Por quê?  Eu também não sei. Talvez para protegê-la, salvá-la. Talvez, quem sabe, para protegê-la e salvá-la de mim mesma. Porque quando eu amo, posso oferecer perigo! Às vezes sou brisa suave, outras vezes vento que sopra forte e derruba tudo. Não sei permanecer suave, vou logo entrando, me instalando, dizendo, absorvendo. Sou toda intensidade! Por isso eu te disse: Não, não sou leve a vida inteira…
Outra coisa interessante que descobri sobre o amor que me invade, é que o amor que eu sinto não é daqueles que vêm do fundo do coração; o amor que eu sinto é daqueles que vêm do fundo do útero. E, embora o coração o revele, quando bate descompassado, o útero é mais profundo porque é capaz de gerar vida. E amor é semente de vida que floresce! Amor nunca é quase vida.  Amor é vida que floresce! Isso eu já compreendi.  E eu amo assim, do fundo do meu útero! Seria essa uma explicação plausível para o amor e a complexidade da vida dentro de mim?
Talvez nada tenha tanta explicação e ouvir o silêncio da alma, quando se mergulha nela, é um meio de fazer tudo se explicar… E nessa tentativa de explicar e traduzir o intraduzível dentro de mim, eu escrevo. E escrever sobre aquilo que a gente não vê, mas sente, é tarefa árdua. Para muitos escrever é um dom; para mim é o bem que me salva – assim com salvou você, Clarice. E, sinceramente, não sei se há algum dom misturado a esse imenso desejo de salvação. Será que eu consigo entender tudo aquilo que existe? Você me disse que “escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada”. Escrever é, então, a minha única esperança, Clarice. Esperança e necessidade de preencher alguns dos meus infindáveis vazios existenciais.  E entender os vazios existências é uma das formas de se abençoar uma vida…
Depois de tanto lhe ouvir Clarice, descobri que escrevendo vou desconstruindo a minha complexidade interior e transformando a minha essência fragmentada em vida. Descobri que escrever é o bom senso que me dobra e me recupera de dores emocionais, mesmo após revelar minha incapacidade de traduzir alguns dos meus tantos sentimentos; como por exemplo, o amor…  Mas, ainda assim, após tantos questionamentos que sobrecarregam a minha essência, confesso que alguns eu já consigo decifrar. Decifrar e entender! E entendo, porque ao escrever o que sinto, me organizo inteira e volto a ser leve, feito “pétala que voa”.

O que me retém.

O que me retém não é o medo da vida. Não! Também não é o eterno desentendimento entre aquilo que recebo dela e aquilo que julgo ser justo receber. Nesse ponto haverá sempre um impasse, mas, ao final de cada ciclo, a gente acaba se entendendo… O que me retém mesmo é o meio do caminho que existe entre o seguir e o ficar. E o meio do caminho quase sempre é um passo curto rumo à casa da incerteza. E a incerteza é o que mais me retém.
O que me retém não é a exigência de um posicionamento seguro diante das circunstâncias. O que me retém é a escolha… É ter que escolher e vestir a personalidade certa para dar conta delas: Posso ser firme como uma rocha e não sair do lugar; ou ser leve como uma pluma, e ir aonde o vento da vida quiser me levar. Porque, algumas vezes, contrariando as circunstâncias todas, o vento da vida segue junto, na mesma direção, e nos leva aonde desejamos chegar. Outras tantas, o vento da vida sopra na direção contrária dos nossos desejos e aí, o conflito é o pouso certo… Nesse caso, o que me retém é o peso incalculável da dúvida.
Não! O que me retém não é a sensação de vazio. Porque vazio é nada; e o nada não absorve; não filtra; não preenche… E um coração que sente, não permanece inabitado por muito tempo – e pulsa intenso, até na inexistência. O que me retém é a ausência atrás da porta, quando enfim encontro a tão desejada saída, após ter me perdido dentro de um imenso labirinto emocional. Porque no fundo, no fundo, o que todo mundo quer após se perder, é encontrar nos braços abertos de alguém a paz que conforta.
No meio de tudo o que existe, mas foge ao meu alcance; no meio de tudo o que vejo, mas não enxergo com clareza; no meio de tudo o que sinto, mas não consigo traduzir, há sempre alguma coisa capaz de me reter.  E me retém. Mas, no meio dessas coisas todas – que eu encontro dentro e fora de mim, aquilo que me retém de fato, é a pouca intensidade da força interior que disponho no momento certo avançar.

"As palavras me antecedem e ultrapassam,
elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito."


(Clarice Lispector)
Tem dias que eu não enxergo consequências e pretendo muito mais do que os meus braços alcançam. Tem dias que eu não tenho fé. E preciso me condicionar a alguma coisa, só para poder firmar os pés no chão. E acordo, sorrio e percorro o caminho dos sentimentos, por pura teimosia.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

‎"Pouquíssima gente me desvenda. Mostro só o que quero. Não por maldade, mas por proteção. A gente tem que aprender a se proteger. Das escolhas dos outros. E até mesmo das nossas próprias escolhas."