"Dias melhores. Caminhos novos, eu tenho fé, eu acredito.
A lua ainda fala comigo."
quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O acaso sempre dava um jeito de pô-los novamente juntos. Assustadoramente iguais, procuravam-se quase que por reflexo. Uma mensagem aleatória, uma ligação espontânea, uma vontade qualquer eram o suficiente para colocá-los outra vez nos braços um do outro, sem prudência ou perspectiva.
Ele não disfarçava suas intenções, ela não o desencorajava. Ele mordia o lábio, ela não escondia o arrepio. Ele investia, ela não se esquivava. Longe dos olhares de censura, seguiam sua natureza humana como uma espécie de afronta à rotina, às convenções, aos relacionamentos comuns. Queriam-se sem se pertencerem. Tinham-se sem se cobrarem. Amavam-se sem se amarem.
Toda essa naturalidade, porém, tinha prazo de validade. Talvez ela se apaixonasse e fosse viver uma história de amor com um terceiro; talvez ele cansasse daquela incerteza; ou talvez eles simplesmente decidissem que passaram dos limites. O fato é que jamais saberiam previamente quando seria a última vez que se encontrariam, pois seus instintos estavam conectados, de modo que, quando a solidão apertasse, eles invariavelmente se buscariam sedentos de familiaridade.
Enquanto o “talvez” não os afastava, contudo, iam alimentando o que tinham sem sequer mencionar o futuro. Somente pele, vontade e uma pitada de malícia.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
sábado, 19 de novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Uma dor chamada saudade

Entre um capitulo e outro da minha história, encontro versos inacabados e entre os versos uma saudade…
Hoje meu dia começou assim: Com uma dor aguda por dentro. É que de vez em quando o meu coração dói. Dói uma dor inteira. Dói porque a mão da saudade atravessa o meu corpo, toca o meu coração e o aperta. E aperta firme, daquele jeito que só resta gritar até a dor incômoda passar. E eu gritei! Gritei alto, bem alto, para que a saudade – por caridade – trouxesse a superfície da memória, lembranças daquele tempo em que passávamos horas e horas falando sobre sentimentos e a vasta alegria de tê-los dançando do lado de dentro. Eu gostava de ser feliz e ela também. Tínhamos vocação congênita para a felicidade, muito embora as tristezas viessem nos visitar de tempos em tempos, deixando apenas uns poucos retalhos de alguns sentimentos. Mas éramos felizes e com fios de felicidade costurávamos novamente a nossa história. Vivíamos assim, entre inconstantes recomeços; mas sem perder a alma para o desânimo que vinha junto com a tristeza. No fundo, no fundo, tínhamos como sobrenome a coragem. Talvez fosse esse o motivo das nossas almas terem se encontrado quando ainda estavam perdidas. E estavam mesmo… A origem disso tudo eu não me recordo. Lembro apenas de uma história de amor mal sucedida, que enlouqueceu os seus sentimentos, e a fez perder o prumo. E eu estava lá, bem perto, tentando dizer o indizível, mas não conseguia porque ela me faltava.
Que saudade… Saudade de um tempo que não volta, mas parece que ainda não foi. E enquanto a dor incômoda ardia no meu peito, lembrava-me dos nossos dias de sol e das noites sob as estrelas; de tudo aquilo que ela guardava em segredo, mas gostava de dizer. Ela inventava histórias felizes e eu as imaginava. Vivíamos emoções infinitas contando histórias bem sucedidas, escritas em versos de amor. Dançávamos ao som da música da vida tendo como tom a generosidade. Trilhávamos juntas o caminho das certezas, até quando elas não existiam. Um dia ela resolveu me contar seus segredos, e eu lhe dizia as minhas verdades ocultas; e das nossas confidências surgiam sonetos de esperança. Esperança grandiosa, plantada dentro do coração, que faz a gente acreditar até o último instante, mesmo quando a vida resolve emitir sons de espanto. Víviamos felizes porque tínhamos esperança! Talvez por isso eu sinta tanta saudade dela: Porque tudo nela alcança a vida.
Logo me dei conta de que algumas horas haviam se passado e eu ainda estava ali, com a viva lembrança nela. Lembrando com ternura até esquecer-me da dor. Aquela dor que é desatino; que fere, mesmo sem tocar. A dor do que foi sem tempo certo para voltar. A dor imensa da ausência. Assim a falta dela dói em mim. E mesmo que eu tente explicar, não consigo dizer porque ela se foi e me deixou aqui, perdida entre um verso e outro. Quanta saudade eu sinto de você…
Você: A intraduzível palavra que habitava aqui, dentro de mim!
Iluminada.

Hoje amanheci sol. Sol que brilha intenso; que ilumina palavras e faz falar coração mudo. Amanheci sol por que ao abrir os meus olhos vi a sua imagem refletida ali, fora de mim… Vi você! Você que habitava dentro e percorria meus espaços de afeto, agora me olhava inteira, tentando descobrir o caminho impenetrável das minhas incertezas. Você que usou a ternura para mergulhar no meu inacessível e desvendar os meus íntimos segredos. Você, que ouço com devoção, o coração bater em suave melodia de amor. Você, finalmente estava aqui e trouxe de presente o intraduzível; o inexplicável, que coloriu até o inexpressivo que havia em mim. Eu, que estava quase sucumbindo, hoje vivo essencialmente em ti!
Conversando com Clarice.
Não, não… Não sou leve a vida inteira. Às vezes eu tenho o peso da complexidade da vida dentro de mim. E é justamente por isso que, de vez em quando, me desentendo dos sentimentos todos. E não pense que misturar sentimentos aqui dentro é loucura enunciada ou prelúdio de uma iminente insanidade. Não, não! Isso é vácuo, que me suga para dentro; que me faz silenciar e remexer até encontrar sentido. Eu mergulhei… Mergulhei no meu íntimo secreto, na tentativa de enxergar o sentido inalcançável da vida. Ah Clarice! Você que enxerga os pormenores da alma humana, consegue me ver? Enxerga que eu sou pormenor agora? Sou fragmento; uma pequena partícula isolada no silêncio da alma. Sou uma parte dentro de todos os sentimentos misturados. Mas ainda sou. E não, não sei explicar quando e como isso acontece. Não me conheço tanto ao ponto de esclarecer alguns impossíveis dentro de mim. Você consegue Clarice? Lembro quando você disse: “O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós”. Talvez eu seja um fragmento do amor impossível! Talvez eu seja a coragem de ser amor o tempo todo. Talvez! Eu ainda não sei, Clarice. As explicações fogem e eu não as alcanço, assim como não alcanço o conceito de ser. Ser é o quê? Ser é existir? Ser é sentir? Talvez eu sinta tudo com a expectativa do que é passível de acontecimento. Talvez eu seja a coragem dos sentimentos todos que carrego aqui dentro. E, ser a coragem dos sentimentos que acontecem de verdade, também é amor.
Aliás, Clarice, por falar em amor, digo sem vergonha alguma, que quando amo de verdade, também não sei explicar. . . É algo que eu não c0nsigo esclarecer. Eu sinto, apenas. Também não sei dizer esse amor. Não há palavra que alcance a tradução da imensa emoção de ter alguém aqui, guardado dentro de mim; percorrendo a essência da minha alma. O que acontece é a sensação. E, quando amo alguém de verdade, a vontade que eu tenho é de engolir a pessoa. Isso! É essa a sensação: Uma sensação traduzida pela vontade de engolir e guardar a pessoa dentro. Por quê? Eu também não sei. Talvez para protegê-la, salvá-la. Talvez, quem sabe, para protegê-la e salvá-la de mim mesma. Porque quando eu amo, posso oferecer perigo! Às vezes sou brisa suave, outras vezes vento que sopra forte e derruba tudo. Não sei permanecer suave, vou logo entrando, me instalando, dizendo, absorvendo. Sou toda intensidade! Por isso eu te disse: Não, não sou leve a vida inteira…
Outra coisa interessante que descobri sobre o amor que me invade, é que o amor que eu sinto não é daqueles que vêm do fundo do coração; o amor que eu sinto é daqueles que vêm do fundo do útero. E, embora o coração o revele, quando bate descompassado, o útero é mais profundo porque é capaz de gerar vida. E amor é semente de vida que floresce! Amor nunca é quase vida. Amor é vida que floresce! Isso eu já compreendi. E eu amo assim, do fundo do meu útero! Seria essa uma explicação plausível para o amor e a complexidade da vida dentro de mim?
Talvez nada tenha tanta explicação e ouvir o silêncio da alma, quando se mergulha nela, é um meio de fazer tudo se explicar… E nessa tentativa de explicar e traduzir o intraduzível dentro de mim, eu escrevo. E escrever sobre aquilo que a gente não vê, mas sente, é tarefa árdua. Para muitos escrever é um dom; para mim é o bem que me salva – assim com salvou você, Clarice. E, sinceramente, não sei se há algum dom misturado a esse imenso desejo de salvação. Será que eu consigo entender tudo aquilo que existe? Você me disse que “escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada”. Escrever é, então, a minha única esperança, Clarice. Esperança e necessidade de preencher alguns dos meus infindáveis vazios existenciais. E entender os vazios existências é uma das formas de se abençoar uma vida…
Depois de tanto lhe ouvir Clarice, descobri que escrevendo vou desconstruindo a minha complexidade interior e transformando a minha essência fragmentada em vida. Descobri que escrever é o bom senso que me dobra e me recupera de dores emocionais, mesmo após revelar minha incapacidade de traduzir alguns dos meus tantos sentimentos; como por exemplo, o amor… Mas, ainda assim, após tantos questionamentos que sobrecarregam a minha essência, confesso que alguns eu já consigo decifrar. Decifrar e entender! E entendo, porque ao escrever o que sinto, me organizo inteira e volto a ser leve, feito “pétala que voa”.
O que me retém.
O que me retém não é o medo da vida. Não! Também não é o eterno desentendimento entre aquilo que recebo dela e aquilo que julgo ser justo receber. Nesse ponto haverá sempre um impasse, mas, ao final de cada ciclo, a gente acaba se entendendo… O que me retém mesmo é o meio do caminho que existe entre o seguir e o ficar. E o meio do caminho quase sempre é um passo curto rumo à casa da incerteza. E a incerteza é o que mais me retém.
O que me retém não é a exigência de um posicionamento seguro diante das circunstâncias. O que me retém é a escolha… É ter que escolher e vestir a personalidade certa para dar conta delas: Posso ser firme como uma rocha e não sair do lugar; ou ser leve como uma pluma, e ir aonde o vento da vida quiser me levar. Porque, algumas vezes, contrariando as circunstâncias todas, o vento da vida segue junto, na mesma direção, e nos leva aonde desejamos chegar. Outras tantas, o vento da vida sopra na direção contrária dos nossos desejos e aí, o conflito é o pouso certo… Nesse caso, o que me retém é o peso incalculável da dúvida.
Não! O que me retém não é a sensação de vazio. Porque vazio é nada; e o nada não absorve; não filtra; não preenche… E um coração que sente, não permanece inabitado por muito tempo – e pulsa intenso, até na inexistência. O que me retém é a ausência atrás da porta, quando enfim encontro a tão desejada saída, após ter me perdido dentro de um imenso labirinto emocional. Porque no fundo, no fundo, o que todo mundo quer após se perder, é encontrar nos braços abertos de alguém a paz que conforta.
No meio de tudo o que existe, mas foge ao meu alcance; no meio de tudo o que vejo, mas não enxergo com clareza; no meio de tudo o que sinto, mas não consigo traduzir, há sempre alguma coisa capaz de me reter. E me retém. Mas, no meio dessas coisas todas – que eu encontro dentro e fora de mim, aquilo que me retém de fato, é a pouca intensidade da força interior que disponho no momento certo avançar.
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