
Certa vez eu pensei: Não tenho um coração, não mais.
Não falo da forma de não ter nada pulsante em mim. Mas daquela coisa que nos faz escolher o melhor caminho. Aquele coração estava ausente de mim. Estava tão perdida que só imaginava que pudesse ser isso, um vazio. Um buraco feito de um tiro certeiro que veio de qualquer direção que meus olhos desatentos não sabem a origem. Não sabia o que fazer e isso era tão grande que ocupava os espaços da memória, dos sonhos e dos outros sentimentos. Talvez tenha me esquecido até de como era sentir. Certas coisas da vida não necessitam de explicação, apenas um olhar atento e um coração aberto. Nos silêncios calmos e serenos é que o coração encontra o caminho certo e as respostas para nossas perguntas. Mas até para dar este conselho para si mesmo é difícil. É preciso mergulhar nos becos obscuros do próprio espírito, se afundar nas próprias angústias e arrancar com as próprias mãos o centro de todo horror próprio: O medo.
Medo de ter coragem e sucumbir. Medo de olhar para si mesmo uma única vez e se tornar egoísta demais. Medo de olhar sempre em frente e esquecer alguém lá atrás. Medo de se jogar e parecer louco. Medo de arriscar tudo e se tornar tolo demais.
E com toda a fé que ainda me sustentava, mergulhei como nunca dentro da própria existência, e arrancando estes medos, afastando das retinas as cortinas que me impediam de ver (e viver) o que era bom, me fiz silêncio. Só então pude começar a escutar o coração, e ver que ele sempre estave ali me apontando a direção.
Deixei as minhas dores em casa, levei nós dois pra passear. Sentei a sombra pra proteger teus olhos, levei água fresca para te saciar. Esvaziei os pensamentos e os sonhos para o futuro. Coloquei as mãos no peito, pra te fazer carinho. Cantei canções pra te acalmar. Agora vou dar um tempo nas nossas brigas, nas nossas disputas diárias de quem é que tem razão. Prometo, coração, agora vou te cuidar.