domingo, 27 de fevereiro de 2011

Seria um longo domingo. Não estava triste, mesmo assim recomecei a chorar enquanto ouvia outra vez o aviso guardado para sempre na memória das paredes:
— Abraça tua loucura antes que seja tarde demais. "  CF
Apesar das muitas conversas, pouca coisa fora dita. O essencial sempre ficara no fundo, esmagado pela superficialidade.  CF
"[...]De qualquer forma gosto quando a cabeça pára o maior tempo possível, caso contrário enche-se de temores, suspeitas, desejos, memórias e todas essas inutilidades que as cabeças guardam para deixar vir à tona quando as mãos estão desocupadas." C.F.A

Para não sofrer eu vou me drogar de outros, eu vou me entupir de elogios, eu vou cheirar outras intenções.
Vou encher minha cara de máscaras para não ser meu lado romântico que tanto precisa de um espaço para existir ridiculamente.
Não vou permitir ser ridícula, nem uma lágrima sequer, nem um segundo de olhar perdido no horizonte, nem uma nota triste no meu ouvido.
Eu sei o quanto vai ser cansativo correr da dor, o quanto vai ser falso ignorar ela sentada no meu peito. Mas vou correr até minha última esquina.
Vou burlar cada desesperada súplica do meu coração para que eu pare e sofra um pouquinho, um pouquinho que seja para passar.
Suor frio da corrida, sempre com sorriso duro no rosto e o medo de não ser nada daquilo que você me fez sentir que eu era.
Muita maquiagem para esconder os buracos de solidão.
Muita roupa bonita para esconder a falta de leveza e de certeza do meu caminho.


Tati Bernadi.
"Pior do que uma voz que cala, é um silêncio que fala!" Simples, rápido! E quanta força! Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis pois, você sabe, o silêncio não é dado a amenidades. Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca. Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas. Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão. O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão. Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim. É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo. Já o silêncio arquiteta planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica, ouvimos um dos dois gritar: "Diz alguma coisa, mas não fica aí parado me olhando!" É o silêncio de um mandando más notícias para o desespero do outro. É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo. Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua, o silêncio é um bálsamo. Para a professora de uma creche, o silêncio é um presente. Para os seguranças de um show de rock, o silêncio é um sonho. Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura, o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta, não há recados na secretária eletrônica e mesmo assim você entende a mensagem.
Martha Medeiros
Assim como não há paraíso que não seja um pouco monótono, não há inferno que seja um pouco excitante.
Ou muito excitante. O diabo tenta, o diabo incomoda, o diabo perturba, o diabo veste Prada.
Os bonzinhos são ótimos mas tem um guarda roupa neutro demais
Martha Medeiros
Viva as válvulas de escape, que lamentavelmente não gozam de boa reputacão.Não sei quem inventou que é preciso ser a gente mesmo o tempo todo, que não se pode diversificar. Se fosse assim, não existiria o teatro, o cinema, a música, a escultura, a pintura, a poesia, tudo o que possibilita novas formas de expressão além do script que a sociedade nos intima a seguir: nascer-estudar-casar-ter filhos-trabalhar-e-morrer." (Martha Medeiros)

Apaixone-se por mim.

Não um amor de mesa posta, talheres de prata, toalha de renda, não um amor de terça-feira, água morna, gaveta arrumada.
Apaixone-se por mim no meio de uma tarde de chuva, rua alagada, rosas na mão, um amor faminto, urgente, latejante, um amor de carne, sangue e vazantes, um amor inadiável de perder o rumo, o prumo e o norte, me ame um amor de morte.
Não me dê um amor adestrado que senta, deita, rola e finge de morto, que late, lambe e dorme. Apaixone-se felino,
sorrateiramente, e assim que eu me distrair, me crave os dentes, as
unhas, role comigo e perca-se em mim e seja tão grande a ponto de me
deixar perder.

Ame minhas curvas, minha carne, me fecunde e se espalhe por meus versos, meus reversos, meus entalhes.
Deixe eu me sentir amada, desejada, glorificada em corpo e espírito
(...) preciso que me ensines, que me fales, que me cales, amém.."



(Patricia Antoniete)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

'E sofrerás muito quando resolveres dizer só aquilo que pensas e fazer só aquilo que gostas. Aí sim, todos te virarão as costas e te acharão mal por não quereres entrar na ciranda deles, compreendes?'
Tem gente que confunde as coisas. Não sou uma boneca, a gente não vai brincar o tempo inteiro, não posso ir para o quartinho de brinquedos, não pode me guardar no armário, não dá para me colocar na estante e pegar quando bem quiser. Eu também confundo as coisas. Ninguém sente igual a mim, ninguém gosta de tudo muito claro e transparente, às vezes as pessoas só querem viver. Sem porquês. E eu penso: por que questiono tanto? Não seria mais fácil ficar quieta e nadar de acordo com as ondas? Pode ser. Mas não consigo prender a respiração por muito tempo.
Clarissa Corrêa

"Mais tarde eu saberia que certas experiências se partilham - até mesmo sem palavras – só com gente da mesma raça. O que não significa nem cor, nem formato de olho, nem tipo de cabelo, mas o indefinível parentesco da alma." Lya Luft


"Meu egoísmo é revelar só um pedaço do que sou, só a parte boa, a mocinha da história. Tenho dentro de mim um elenco de coadjuvantes que não deixo que brilhem, que não dão autógrafos nem saem nas capas de revista. Egoísta. Poupando o mundo do meu lado sórdido, que costuma ser o mais interessante."

Martha Medeiros



“Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.” - Fernando Pessoa.
Sempre há alguma coisa que falta. guarde isso sem dor, embora, em segredo, doa. CF'
Quase analfabeto de si mesmo, sem vocabulário suficiente para explicar-se sequer a um espelho. Não queria assim, esses turvos. Não queria assim, esses vagos. Sem nenhum humor.

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


Sou libriana. Signo da balança, da beleza, da justiça, do equilíbrio. Eu não tenho nadica de nada de equilibrada, muito pelo contrário. Às vezes eu surto com força, piro legal, saio da pista, caio fora do eixo. Acontece nas melhores famílias (será?). Falo coisas e me arrependo, faço coisas e penso cacilda-eu-fiz-mesmo-isso, mas prefiro agir com meu coração, instinto, sentimento, emoção, dê o nome que quiser, prefiro agir com a cabeça quente e no calor do momento do que ser uma pessoa morna, quase fria ou gelada. Gente que não tem sangue nas veias me assusta. O gelo não me agrada, a não ser na caipirinha. Aí, por favor, coloque bastante. Caipirinha quente não desce, não.
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Meto muito os pés pelas mãos. Sou impulsiva, por isso resolvi fazer terapia uma vez por semana e colocar para fora tudo que pesa dentro e fora de mim. Faz bem, faz bem. Mas tudo tem seu preço: dói. Dói remexer em coisas, olhar no fundo da gente mesmo, se despir, vomitar, dar um tapa nas costas e desengasgar. Mas é necessário, é essencial, é crescimento, é saudável, é trágico, é maravilhoso, é tudo junto e bagunçado. A gente precisa bagunçar para poder arrumar. E assim nós vamos, sujos e limpos, feios e lindos, em paz e loucos.
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Dizem que os librianos vivem na dúvida e nunca sabem por qual caminho ir. Então, me pergunto: você, capricorniano, escorpiano, pisciano, taurino, sabe para onde ir? Você, ser humano crente ou descrente, preto ou branco, rico ou pobre, sabe para onde ir? Não, ninguém sabe. A vida é uma corda bamba, dúvida eterna. Temos medo de ir e não ir, ficar e correr, arriscar e não sobreviver. E é isso, é esse o jogo, joga quem tem coragem de pular lá do alto, dar a cara a tapa sem medo de ficar com o rosto marcado para sempre. E isso é uma das coisas mais incríveis que existe: poder escolher. Poder fazer o próprio caminho. Poder errar, acertar, aprender, criar, destruir, renascer.

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Clarissa Corrêa
 
"Eu não sou legal, não mesmo. Acho que sempre tenho razão e quando minhas previsões dão certo olho com a cara mais abominável do mundo, dou um sorriso irônico e falo o clássico eu-te-avisei. É que, em geral, eu tenho razão. Essa é a primeira –e mais importante – coisa que você precisa aprender a meu respeito. Não sei receber elogios, fico sem saber o que fazer, me atrapalho e acabo trocando de assunto,quando não troco as pernas e tropeço em algum canto de mim. Sorrio para disfarçar desconfortos. Se eu não gosto de você é bem provável que você tenha medo do meu olhar. Se eu gostar de você aviso de antemão que você é uma pessoa de sorte. Eu me entrego. Quem vive comigo sabe. Quem convive comigo sente. Eu amo poucos. Mas esses poucos, pode apostar, amo muito."

- Clarissa Corrêa

O AMOR É FODIDO.


São em noites como essa que algumas ausências me corroem. A vida pode ser muito sacana se resolvermos tratá-la como algo real - porque eu sempre achei a vida uma ilusão tamanha, você sabe. E eu ando sem paciência para determinadas coerências, ma belle. Acabo de sair do banho. O cheiro de sabonete toma conta do quarto junto ao vapor da água quente. Enquanto secava meus cabelos, a água escorrendo pelos ombros, um sambinha macio ia se libertando do vinil. Pensei em amor. Pensei em cenas antigas de cinema, naqueles movimentos mudos, e dancei, nua, como se o momento inteiro fosse uma partitura. Mas não houve quem me tocasse, quem me cantasse. Vesti o roupão, abri as janelas, contemplei.

O amor é obrigação? Essas conversas bobas, apenas um pretexto para terminar na cama. Pensamentos curtos, comodismos, discursinhos ordinários. Olho e não enxergo. É tudo pequeno. Cadê o desmedido, entende? Cadê o que se expande em cada encontro? Um papo que estique e dê valor ao clichê naminhacasaounasua?, cadê? Às vezes eu troco tudo pela companhia de uma planta qualquer. Continuo com essa minha mania de contemplar o nada com uma admiração gigante. E tem o filme que contei a você, as neuras que desataram, essa coisa de saber que estamos todos suspensos, pendendo entre o destino e a sorte.

Eu não sei, mas o norte me parece meio embaçado. Preciso que qualquer acaso desencante essas amarguras, que me faça levantar da cama, tirar aquele outro disco empoeirado da estante e me ofereça uma dose de uísque, sem gelo, enquanto caminho pelo apartamento usando meias e calcinha só para dar um tom qualquer. É nesse ritmo que algumas indecências batem à minha porta e deparam com essas lágrimas pretas. Sentadas nas escadas, fumando um cigarro e olhando fixo para um ponto insignificante, essas indecências. Esclarecendo: parei de adocicar os contos de fadas, o felizes para sempre. A verdade é que tudo termina com o era uma vez. Porque já não é mais, vê? Na maioria dos casos não teve vez nenhuma.

Resolvi olhar o amor com olhares obscenos. Tem mais a ver com prazer, com repousar o coração num lugar tranquilo, ainda que por apenas uma noite. Ninguém precisa ser o futuro de ninguém, isso assusta demais, convenhamos. As coisas acontecem no agora? Nele permanecerei. No agora é onde consigo sentir. Consigo preparar receitas para que sejam descumpridas, recheadas de pitadas desconhecidas. O amor pode chegar deslizando as alças do meu vestido, ensaboando meu corpo, acariciando minhas formas, tatuando minha virilha, gemendo sob minha pele suada, sufocando minha voz com beijos a me queimar a língua enquanto fuma meu hálito. Ou pode não chegar, também.

Você sabe, deve haver um feeling qualquer, porque a solidão, ma belle, essa não se esvai com meras trepadas. E eu nunca fico. No máximo a TV permanece ligada enquanto desenhos animados brincam com a vida de lá. Eu me mando, a ressaca fica. Eu me mando para respirar, abrir a geladeira, medir meu desespero em qualquer garrafa.

O amor, todavia, insiste num balé de cheiros impregnantes. Disfarça, rodeia, mas gruda em cada dobrinha. E daí a gente finda tomando um banho juntos, escorre juntos. Ele escorrega e fim: sobram uns risos convulsivos. Talvez, ainda, eu faça uns malabarismos com as pernas, arrisque uma pose de mocinha psicótica, daquele jeito, com um explosivo em cada olho, suba na mesa, arremesse uma taça. Só para chamar a atenção. Só pro meu prazer. Porque, não é de agora, palavras bonitas não me emocionam. Eu preciso de reações, me rasgar na cama enquanto Luiz Melodia grita que baby, te amo, nem sei se te amo...

Me ocorre agora, veja bem, tudo se dissolve. Você pode achar que não tem sentido. Mas, honestamente, o que tem sentido? A busca louca pelo amor geralmente resulta em pernas abertas e desencontros. Em outros casos tem-se um cigarro e olhares para o teto. Não mais, não menos, mas também.

O amor é um interlúdio. O amor, ma belle, é fodido. E nem por isso deixa de ser amor .

- Miguel Esteves Cardoso

Continuo sendo a Amanda. Continuo no mesmo endereço de um ano atrás. Continuo a ser admiradora da lua. Continuo na mesma casa. Continuo achando que no meu quarto, estou em um mundo só meu . Continuo com o mesmo nome, o mesmo sobrenome, RG, CPF, só que  fiz um título. Continuo com o mesmo celular. Continuo com o mesmo jeito direto que assusta algumas pessoas. Continuo a mesma boba que sorri de nada. Que faz bico quando chora. Continuo com o mesmo jeito tímido. Continuo com a mesma cautela ou sem ela. Continuo com um exagero abusado e um drama para achar graça. Continuo falando bobagens. Continuo acreditando nos amores. Continuo quebrando a cara. Continuo brincando de ser feliz. Continuo eternizando letras. Continuo a sentir-me plena quando olho a lua cheia. Continuo com minhas insônias. Continuo com minhas defesas, medos, desesperos. Continuo vivendo muito para dentro. Continuo sem paciência para o social. Vez ou outra dou uma de João Gilberto. Continuo crítica, principalmente comigo mesma. Continuo azeda, mas muito doce quando doce. Continuo do contra e adoro discordar para pirraçar. Continuo a fazer aquela vozinha cuticuti quando converso (?) com bebês. Continuo séria. Continuo sorriso. Continuo a fazer telefonemas de carinho ali no quintal, olhando para o céu. Continuo viciada em toddynho e choro com filminhos romanticos. Continuo a reclamar do calor. E se faz frio, reclamo do frio. Continuo a preferir o inverno. Continuo fã de sorvetes. Continuo a me apaixonar todos os dias. Continuo a sofrer para pisar no chão e deixar a fantasia de lado. Continuo descaradamente libriana. Continuo com umas coragens insanas. Continuo a irmã mais velha das irmãs.  Continuo sendo várias, depende de quem me chama. Continuo a soletrar meu nome em todo canto. Continuo louca por abraços. Continuo essencialmente fascinada por músicas. Continuo a sorrir quando ouço meus pagodes. Continuo a fingir que não tenho medo de ficar sozinha. Continuo a ler textos e poesias. E continuo gostanto tanto de cachorros. Continuo orgulhosa e  travada nos euteamos. Continuo com o mesmo perfume. Continuo sem fazer academia. Continuo a trocar baladas por cinema. Continuo a ter nojinho de algumas pessoas. Continuo a enxergar no Rio Grande do Sul um lugar que é abraço. Continuo louca pra sumir daqui. Continuo a cobrir meu corpo inteiro quando durmo à noite após um filme de terror. Continuo a achar mesmo que o cobertor me protege, nessas situações. Continuo obviamente besta. E mais chata. Continuo observadora demais. Continuo calada quando muita gente fala ao mesmo tempo. Continuo mais MPB e bossa. Continuo sempre com um trident de canela na bolsa. Continuo a achar estranho unhas dos pés pintadas de vermelho. Continuo a escovar os dentes pensando na vida. Continuo a procurar erros de português em todos os cantos. Continuo a me sentir feia de vez em quando. Continuo sarcástica. Continuo ótima ouvinte. Continuo sensível demais. Continuo insensível demais.  Continuo achando sexta-feira o melhor dia da semana. Continuo acumulando leituras indicadas. Continuo a achar que chuva forte é aplauso. Continuo com inveja das pessoas que sabem lidar com os problemas. Continuo a me encantar com ternurinhas. Continuo a querer aprender inglês . Continuo a ganhar o dia quando me dizem que andei emagrecendo. Continuo sem beber, exceto uma vez que passei dos limites. Continuo sem formspring, twitter, facebook. Continuo a não usar batom. Continuo a achar Caio Fernando Abreu o melhor escritor. Continuo preferindo a calça jeans. Continuo a ver duplo sentido em quase tudo. Continuo a achar melancia uma fruta alegre, porque cada talhada é um sorriso. Continuo achando que preciso usar óculos.Continuo com preconceito musical. Continuo com preguiça de gente. Continuo com saudades imensas dos amores que nunca encontrei. Continuo a não gostar de fotografias. Continuo a não saber me expressar quando estou diante de uma pessoa. Continuo preferindo escrever ao invés de falar. Continuo sendo fã de chocolate. Continuo a me tranquilizar quando a chuva cai lá fora. Continuo na minha sozinhez. Continuo a brigar com minha escolha profissional. Continuo a querer ser pedida em casamento todos os dias.  Continuo a achar que ovomaltine do Bob's, batatas fritas e diamante negro são invenções dignas. Continuo a ficar em pânico com perguntas pessoais. Continuo apavorada quando preciso falar em público. Continuo a achar que pra caralho é uma expressão que intensifica as coisas pra caralho. Continuo a dormir com dois lençois , ou então não durmo. Continuo a  ser mulherzinha. Continuo a me irritar com quase nada. Continuo a ter crises existenciais gigantes . Continuo ansiosa. Continuo solta. Continuo amante do mar.  Continuo monstra quando acordo e mais ainda quando sinto dor.  Continuo a contar meus mais amigos nos dedos da mão direita. Continuo com doses altas de melancolia. Continuo a voar para dentro das pessoas quando vejo pedacinhos meus por lá. Continuo a ver um lado escondido quando o espelho me enfrenta. Continuo a chorar de repente, do avesso, florindo. E depois, posso até sorrir. Continuo a me gastar de maneiras lindas. E a contabilizar meus pedaços assim, todo dia 11 de outubro. Que esse eu não escolhi, é de fato meu dia . Que me recebeu, com suas águas. Toda essa promessa de vida. E vários corações.
Continuo amor, só não sei até quando.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. Eu caminho, desequilibrada, em cima de uma linha tênue entre a lucidez e a loucura. De ter amigos eu gosto porque preciso de ajuda pra sentir, embora quem se relacione comigo saiba que é por conta-própria e auto-risco. O que tenho de mais obscuro, é o que me ilumina. E a minha lucidez é que é perigosa (como dizia Clarice Lispector).

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Se eu pudesse me resumir, diria que sou irremediável


(Marla de Queiroz)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Somos inocentes em pensar, que sentimentos são coisas passíveis de serem controladas. Eles simplesmente vêm e vão, não batem na porta, não pedem licença. Invadem, machucam, alegram. São imprevisíveis e sua única regra é a inconstância total. É irônico que justamente por isso, eles sejam tão perfeitos.

Caio Fernando Abreu

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"O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo. Por isso quer a mulher: o jogo mais perigoso."

Friedrich Nietzsche.
O que me interessa no amor, não é apenas o que ele me dá, mas principalmente, o que ele tira de mim: a carência, a ilusão de autossuficiência, a solidão maciça, a boemia exacerbada para suprir vazios. Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um, para qualquer coisa, a qualquer hora. Ele apazigua o meu peito com uma lista breve de prós e contras. Mas me dá escolhas.Eu me percebo transformada pelo que o amor tirou de mim por precisar de espaço amplo e bem cuidado para se instalar. O amor tira de mim a armadura, pois não consigo controlar a vulnerabilidade que vem com ele; tira também a intransigência. O amor me ensina a negociar os prazos, a superar etapas, a confiar nos fatos. O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade, de ir embora antes de sentir vontade, de abandonar sem saber por quê. E é por isso que o amor me assombra tanto quanto delicia. Porque não posso virar as costas pra uma mania quando ela vem de uma pessoa inteira. Porque eu não posso fingir que quero estar sozinha quando o meu ser transborda companhia. O amor me tira coisas que eu não gosto, coisas que eu talvez gostasse, mas me dá em dobro o que nunca tive: um namoramento por ele mesmo.O amor me tira aquilo que não serve mais e que me compunha antes. O amor tirou de mim tudo que era falta.

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Marla de Queiroz
A gente se autoproclama moderno, desencanado, cabeça-aberta, a gente incentiva o amor-livre, o "se jogar", o hedonismo sem culpa, o prazer imediato, a falta de limites. Mas só até alguém tirar os pingos dos seus is e você perceber que é careta e que quer o tradicional. Que daria tudo para ser só mais um, contente, com um amor pra vida toda ao lado, numa rotina incessante de cidade do interior. Coisas que vão e voltam. Coisas fáceis, simples.
Ela sim, se julgava, e como. Era neurotica sempre e com tudo. Mas nem por isso deixava de ser instintiva. E ai moravam a graça e o segredo de sua personalidade cheia de riquezas e esquisitices.




Tati B.
‘Exagerada toda a vida: minhas paixões são ardentes; minhas dores de cotovelo, de querer morrer; louca do tipo desvairada; briguenta de tô de mal pra sempre; durmo treze horas seguidas; meus amigos são semi-irmãos; meus amores são sempre eternos e meus dramas, mexicanos!’


Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração! Não façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas não serei a mesma pra sempre!

Clarice Lispector
Às vezes me dá enjôo de gente. Depois passa e fico de novo toda curiosa e atenta. E é só.

Clarice Lispector

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011


Eu devo reconhecer que ninguém me conhece. Não realmente. Os que mais sabem não sabem da metade. Não deixo todos os segredos escaparem de mim, não mesmo. Uma delicadeza com os outros, eu diria, pois não quero assustar as pessoas com meu passado. Em especial aquelas que continuaram gostando de mim após o pouco que souberam. Mesmo porque aquela, que fez aquilo, nao está mais aqui. Eu sou literalmente outra!

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Fernanda Young!

"Sou cheia de manias. Tenho carências insolúveis. Sou teimosa. Hipocondríaca. Raivosa, quando sinto-me atacada. Não como cebola. Só ando no banco da frente dos carros. Mas não imponho a minha pessoa a ninguém. Não imploro afeto. Não sou indiscreta nas minhas relações. Tenho poucos amigos, porque acho mais inteligente ser seletivo a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, se sou chata, não incomodo ninguém que não queira ser incomodado. Chateio só aqueles que não me acham uma chata, por isso me querem ao seu lado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho.

Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser ter que pagar o preço da manutenção, mude para um Passat. "

- Fernanda Young

Sempre ouço isso quando algo me dói, e realmente sempre passa!
Mas o que eu faço com a dor do caminho que fica entre o "-Vai passar..."?
E a cicatriz deixada?
(Nessa posso fazer uma tatuagem pra mascarar)
Não, não te daria minha dor.
Um turbilhão de pensamentos.
(O sono se foi pela janela)
Sabe quando você não acha o momento? Mas vê uma frase de “alto-ajuda”:- Sempre há um momento!
(PS:É sempre mais fácil na frase)
Sabe quando o armário está desarrumado, a vida está desarrumada, seu cabelo ta desarrumado e você nem sabe por onde começar?
Sabe quando só um abraço conforta?
(mas quem poderia te confortar também busca conforto)
Sabe quando você deseja ter 15 anos e só quer se preocupar em combinar com suas amigas:- Em que festa e com que roupa?
Sabe quando o grito fica preso na garganta? Você grita por dentro e a garganta até dói.
Da vontade de chorar e de sair correndo.
Quem sabe ir pro "esconderijo predileto"
(Mas ele ficou nos tempos de menina)
E agora é palavra de mulher!
Há dias em que amanheço assim: rastejando sentidos.
Vejo incompletude em tudo e eu busco um ponto final, palavras terminativas, o próximo capítulo.
Estou farta de andar por vagas, terrenos movediços que cedem à mais leve pressão dos pés.
Eu não quero delicadezas.
Quero o peso conclusivo do discurso removendo minhas entranhas até clarear meu olhar.
Não creio (mas tem quem prove!) que a bruma densa que vejo seja sinônimo de lirismo e não de vertigem.
Não gosto de abismos, se ando por eles é por pura imposição, por circunstâncias.
Tão logo eu encontre a explicação, amanhecerei diferente.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Tudo me atinge, vejo demais, ouço demais, tudo exige demais de mim.

E como é bom fazer o que se quer sem nem pensar antes.

Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim. Vivo me perdendo de vista.

Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa.

Às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria.

Gosto das coisas secretas.

Sou uma pessoa insegura, indecisa, sem rumo na vida, sem leme para me guiar: na verdade não sei o que fazer comigo.

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Clarice Lispector

sábado, 19 de fevereiro de 2011

"Ah, Menina, o que foi que foi que aconteceu com você? O que foi que fizeram com você? Eu não sei, eu não entendo. Roubaram a minha alegria. Tiamelinha quando foi pra clínica só dizia isso: roubaram a minha alegria, é tudo uma farsa, aquele olho desmaiado, é tudo uma farsa, roubaram a minha alegria. A primavera, o vento, esperei tanto por essa margarida, e veja só. Atrofiada. Aleijada. As pedras frias do chão da cozinha , rolar nua neste chão, qualquer dia faço uma loucura. Faz nada, você está nessa marcação faz mais de dez anos. Mais de dez anos. A gente se entrega nas menores coisas. (...)
Papai, eu estou louca pirada que nem Tiamelinha, acho tudo uma farsa, roubaram a minha alegria, papai. Durmo durmo durmo, batem na porta mas nunca é ninguém, aconteceu alguma coisa comigo, eu não era assim, esses calores (...) Agora já não dá mais, Luzinha, troco tarde, se continuo assim vou parar numa clínica ou tento o suicídio. Tenta nada, você não tem coragem, e tentar pra quê? Pra chamar a atenção dos outros? Pra dizer como-sou-infeliz-ninguém-me-entende?

Caio Fernando!
"Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais. "
 
 
E outra coisa – não se esforce. Pelo menos não tanto. Não fique ai remando contra a maré. Dando murro em ponta de faca. Veja – se não fora pra ser, não vai ser. Acredite em mim. Coisa boba essa sua tentativa de ir alem. E olhe, eu não estou pedindo pra você desistir não, não é isso. Eu só quero que você pense mais, que leia mais. Que tenha argumentos melhores. Você está muito novo ainda. Cresce!
 
 
Por que então, cultivar roseiras se quando tudo está crescido é nelas que você se corta?
 
 
-
 
Tudo do Caio!

Eu quero o diferente.O inusitado, o novo, o original, o autêntico. Cansei de pessoas iguais, sonhos iguais, modas iguais, conversas iguais.
 
Caio F.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ultimamente tenho sentido um grande vazio interior. Não que isso seja algo novo, apenas tornou-se mais constante, mais forte.
É como se nada fosse capaz de tapar esse buraco existencial imaginário, como se não houvesse solução, apenas aceitar e conviver com isso.
Não há culpados, não há ninguém que possa ser responsabilizado por isso...
Eu mudei muito no de 2010, e gostei do que me transformei!
Eu já não saio mais porque não tenho paciência pra isso, não tenho mais vontade de ir pra locais cheios de gente estúpida, patética e sem interesses futuros. Eu não consigo chegar a um local e não analisar as pessoas, não tentar imaginar o que elas querem da vida, e geralmente finalizo a minha observação com a conclusão de que essas pessoas não querem nada, não buscam nada, não possuem planos nem ideais.
Perceber isso me deixa totalmente irada, e como qualquer pessoas em sã consciência odeia não estar bem consigo mesma, prefiro então me afastar dessas pseudo pessoas.
Me incomoda ver que os jovens estão apenas interessados em roupas, em festas, em bagunça, cachaça e que conhecimento e crescimento intelectual são coisas deixadas pra depois, sempre pra depois...
Mas aí eu pergunto, e quando será esse depois?
Sera que 'depois' não vai ser tarde demais pra você ser alguém realmente?
Quando falo alguém não quero dizer pessoa de carne e osso, isso qualquer um é, eu quero dizer uma pessoa que se conhece, que é capaz de saber o que sente, que possui vontade de crescer, evoluir, e não simplesmente ser mais um rosto no meio de tantos outros.

Rifa-se um coração.


Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente, que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu:
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.

Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este DESEQUILIBRADO emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e se recusa a envelhecer"

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta...


(Clarice Lispector)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

“Carregue ela e finja que você vai jogá-la na piscina... ela vai gritar e te bater, mas secretamente ela vai amar. Segure sua mão enquanto você conversa. Segure sua mão enquanto você dirige. Apenas segure sua mão. Diga que ela está linda. Olhe em seus olhos enquanto você fala com ela. A proteja. Conte piadas idiotas para ela. Faça cócegas nela, mesmo que ela te mande parar. Quando ela começar a te xingar diga que a ama. Deixe-a adormecer em seus braços. Deixe-a brava, em seguida, beije-a. Provoque ela. Deixe ela te provocar de volta. Beija-a na bochecha. Beija-a na testa. Apenas beije-a. Deixe-a vestir suas roupas. Vá devagar. Não force nada, e quando você se apaixonar por ela, diga a ela."

"Pensando em escrever para minha mãe, em mudar de vida, de emprego, de cidade, de país, que vontade, querida mamãe, de ser feliz, de ter um grande amor bem limpinho, bem clarinho, um amor de manhã bem cedo, não diga nada a ninguém, não é preciso, mas cá-entre-nós-que-ninguém-nos-ouça, não vem dando muito certo, tenho tentado, juro, beijos no pai, que ele não saiba que estou ficando velho, não conte a tia Flora que perdi as ilusões, que já nem lembro mais, e encho o saco disso e apago a luz e durmo e sonho." C.F.A

"Transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. (...) Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor."
Do Caio pra mim!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Fico impressionada comigo mesmo, às vezes, depois de tantas marcas, mágoas, despedidas... Depois de tantas idas e vindas e lágrimas, a coisa que eu faço melhor é parar, respirar fundo, sentir essas duas gotas escorrerem face abaixo e, logo em seguida, colocar-me no topo, intocável, na armadura que deixei na sala. É impressionante como isso- dentro – ainda não secou com o tempo.
Ainda não se esvaiu com os anos, as temperanças, as desesperanças. Mas não há coisa melhor do que deixar a armadura na sala e sentir por um segundo que você também é humano... Não, não há. E só para reforçar; não atendo chamadas, não respondo recados, meus emails vão direto para o lixo eletrônico... Mas se chegares com um par de braços abertos eu aceito com um sorriso no rosto. Nunca foi mesmo do meu feitio recusar tais coisas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Há uns seis meses praticamente não saio de casa, detesto tudo, perdi o contato com as pessoas, fico vivendo uma vida toda pra dentro, lendo, escrevendo, ouvindo música o tempo todo. Daí, então, vou em busca de um pouco de Sol (em todos os sentidos)

Caio Fernando
"Hoje, com toda minha birutice e uma vontade de aprender que não acaba, eu pego minhas fraquezas. Deixo-as enfileiradas. E as estudo como se minha vida dependesse disso. É. Com o auto-controle nas mãos, um propósito debaixo do braço e nossos inimigos internos dormindo, podemos - quem sabe? - nos tornar guerreiros impecáveis. Ou - se não - apenas sorrir mais. O que pra mim já vale a luta. Ou uma vida inteira."

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Fernanda Mello

Aos poucos a gente vai mudando o foco, e o lugar nem te acrescenta mais. Você começa a precisar de outros lugares, de outras pessoas e de bebidas mais fortes. Nem pensa. Vai indo junto com as coisas."

Caio.

Não desista jamais e saiba valorizar quem te ama, esses sim merecem seu respeito. Quanto ao resto, bom, ninguém nunca precisou de restos para ser feliz.

Caio F.

Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado.

Caio.

É esquisito, mas sempre orientei minha vida nesse sentido — o de não ter laços, o da independência, de poder cair fora na hora que quisesse .

CFA

"Acho tudo um grande porre. Um grandessíssimo porre. De vez em quando, no meio do porre, a gente arruma alguém pra fazer uma coceguinha no nosso coração. Mas aí, depois da coceguinha, a vida volta ainda mais tosca. E tudo volta um porre ainda maior."

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Tati B.

Tenho a mão estendida para abrir a porta, chamar o elevador. Descer, partir, viver."


Caiooo!

Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre." Amém !

Caio Caio...
"Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias."


Me sinto esfolada viva pelo mundo. Me sinto enganada por anjos. Me sinto inteira uma enganação. Respiro mentiras. Visto desculpas. Ajo disfarces.
O mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição."
'Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.'
"Tenho juizo, mas não faço tudo certo, afinal todo paraíso precisa de um pouco de inferno!"

Matha Medeiros
Essa vida viu, Zé, pode ser boa que é uma coisa. Já chorei muito, já doeu muito esse coração. Mas agora tô, ó, tá vendo? De pedra. Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda, Zé, mas ninguém entendia ela, ninguém acolhia ela. Todo mundo só abusava dela. Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não tenho mais alma nenhuma. Já era, Zé. É isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, Zé? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço, Zé? Desculpa."

Caio.
"'Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...' Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia. Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos."


Martha Medeiros

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

" Mas anota aí pro teu futuro: cair na real. " Caio F.
"Estou decidido a fazer uma mudança completa na minha vida. Estou com 20 anos e é tempo de fazer alguma coisa. Já descobri que se existe uma palavra capaz de definir a minha atitude ela é só uma: covardia. Fico me perdendo em páginas de diários, em pensamentos e medos, e o tempo vai passando. É covardia, sim. receio de enfrentar a vida cara a cara. Porque descobri que não me busco, ou se me busco é sem vontade nenhuma de me achar, mudando de caminho cada vez que percebo uma luz ao fundo. É fuga, o tempo todo , é fuga intercalada por períodos de reconhecimento – suavizada, então, mas ainda fuga. E eu agora sei que quero ser eu mesmo. Com tudo de mau que isso possa implicar – e não creio que seja muito. Mas não me iludo. Sei que, mesmo não sendo mau, fácil não será. Mas estou disposto a correr o risco. É preciso agora concretizar a idéia. Tira-lá dos limites do pensamento, arranca-lá apenas do papel e torna-lá um pedaço de mim, decisão encravada em seu corpo. Não sei como fazer, mas sei que o farei. Hoje, amanhã ou depois, eu o farei."

Caio Fernando, sempreee!
"Que comece agora. E que seja permanente essa vontade de ir além daquilo que me espera. E que eu espero também. Uma vontade de ser. Àquela, que nasceu comigo e que me arrasta até a borda pra ver as flores que deixei de rastro pelo caminho. Que me dê cadência das atitudes na hora de agir. Que eu saiba puxar lá do fundo do baú, o jeito de sorrir pros nãos da vida. Que as perdas sejam medidas em milímetros e que todo ganho não possa ser medido por fita métrica nem contado em reais. Que minha bolsa esteja cheia de papéis coloridos e desenhados à giz de cera pelo anjo que mora comigo. Que as relações criadas sejam honestamente mantidas e seladas com abraços longos. Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo instante as sementes do bem e da felicidade de quem não importa quem seja ou do mal que tenha feito para mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais, de um jeito mais leve. Que o respeito comigo mesma seja sempre obedecido com a paz de quem está se encontrando e se conhecendo com um coração maior. Um encontro com a vontade de paz e o desejo de viver."

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Caioo!