domingo, 10 de julho de 2011

Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas.

Caio F. Abreu


Nasci do outro lado do globo, desde meu menor indício de vida eu era minoria.
Sempre tive uma vontade desconfortável de querer ir embora. Não sei pra onde, não sei pra quê.
Sou estrangeira aqui e lá, em todos os lugares possíveis.
Toda minha vontade de ir embora é na verdade o desejo oculto de paz. Sim, eu quero conforto dentro e fora de mim. Tenho necessidade de ser compreendida, ou minimamente respeitada.
Não sou parte de nada e nem de ninguém.
Eu me escapo, me desregro, me mato, me negativizo. Pra o que eu sinto não tem limite.
Já fui cega, e era mais feliz. Troquei a felicidade gratuita pela lucidez.
Me lembro que quando pequena, sentava na máquina de costura da minha avó e passava horas olhando pela janela.
Me lembro da constante vontade de ser lembrada, da mania de calçar sapatos que não eram meus, da paixão pelo desconhecido e da mais imensa esperança de viver.
Eu mudei. Deixei um tanto de acreditar. Me comovi com a impossibilidade de certos acontecimentos. Perdi pessoas que ainda vejo, perdi pessoas que não verei jamais. Desacreditei em casamento, religião e televisão.
Mas veja, não mudei tanto assim. Ainda passo horas detrás da vidraça olhando lá fora, tenho sede pelo desconhecido, calço sapatos não meus - mas desta vez, figuramente falando.
A data do meu nascimento é um engano. Na verdade, já nasci e morri tantas vezes que perdi a conta.
Não gosto de resumos. Minha vida não vai ser um texto ou uma estrofe, e sim uma biblioteca toda.
Me ocorreu ser assim, um dia passa, um dia volta. Talvez não se tratem de dias e sim de uma vida toda.
Que seja, me deixo ser.


MelinaFlynn.

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