
Eu nunca chorei por você. Eu chorei pelas noites em branco que eu passei,
pelo estômago que não queria nada, pelas insaciáveis vontades de suprir o vão, por me precipitar ao te deixar entrar. De nada adiantaria tentar te explicar porque você jamais entenderia. Gente como você se desvia da realidade, se ilude nas noites com uma bebida cara, beija os lábios de uma desconhecida e acha que é feliz.
Gente como você não se estabiliza, trabalha e sente sempre uma ausência que não sabe explicar, pois nunca se quer parou para tentar entender. Vai levando a vida como se fosse um jogo, vai engolindo o choro pra não mostrar fraqueza, vai perdendo a hora, vai perdendo o sentido.
Gente como eu não se basta em existir, une a vida com o verbo e suporta a estrondosa morte diária, embarca
na dificuldade de tentar compreender, mesmo que tudo pareça errôneo, mesmo que não hajam seres suficientemente
pensantes que sentem ao teu lado e te dêem ouvidos, ou melhor, o coração.
Assim, tão cansada de não achar sentido pra nada, de perder mais do que ganhar, de buscar
um equilíbrio que me permita ainda sim sentir e jamais deslocar.
Continuo acordando no meio da noite, ainda ligo o rádio e abro a janela, ainda sou insone pelas manhãs, ainda troco de canal a cada dez minutos, ainda tomo café o dia todo e ainda reviro na cama sem parar.
Ando ignorando as aproximações e amando pouco. Adoro sorrir para estranhos e desligar os telefones, tentar parar de querer entender e deixar rolar, mas não consigo encontrar nada que seja suficiente para me calar, e
nem quero. Obviedade me dá rugas.
Naquela noite você foi e acabou pra nós, acabou até algum dia, até nunca
mais. Logo, começou. Está sendo lindo cada tropeço, cada erguida.
Você sabe, estou sempre esperando algo.
Melina Flynn
Nenhum comentário:
Postar um comentário